sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cultura, aqui me tens de regresso...

Bem, depois de dois vergonhosos meses sem postar nada, resolvi dar as caras por aqui. E desta vez para falar sobre cultura que é, afinal, o motivo principal deste blog irregular.

Antes de começar, quero dizer que a ausência foi parcialmente causada por uma longa viagem a serviço e também porque estive mais envolvido com outro blog, criado pela minha amada Dani, e que trata da nossa vida a dois. Muito gostoso, se me permitem a corujice. Para os curiosos, eis o blog do Casal Sensacional! E eu disse "parcialmente" porque o outro motivo foi mesmo a preguiça, confesso.

Vamos falar sobre cultura então. Estou lendo um livro interessantíssimo do divulgador científico Simon Singh cujo título é Big Bang. Trata da teoria científica que afirma que o universo foi criado em uma grande explosão (Big Bang, em inglês) que deu origem a tudo o que conhecemos hoje à nossa volta. Mas não se trata de um material técnico, que exija algum conhecimento científico para ser compreendido. Pelo contrário. Simon Singh tem um dom: o de transformar assuntos áridos e extremamente técnicos em conversa palatável, descontraída e cativante. Nada de fórmulas, nada de teorias rebuscadas. Na verdade, para abordar o assunto, o autor faz uma regressão desde os primeiros filósofos gregos (ainda não eram cientistas por falta de uma abordagem e método adequados) que tentaram compreender o mundo em que viviam e nosso lugar no infinito. Sua prosa é agradável, leve e abrangente, embora continue minuciosa. Parece contraditório? Tente ler o autor e surpreenda-se.

Sobre o autor, posso dizer que é um mestre na arte de esclarecer assuntos espinhosos. Um outro livro dele que é delicioso trata de um assunto ainda mais árido: matemática avançada. É a sua descrição de como um matemárico decifrou um dos maiores mistérios remanescentes da teoria dos números e se chama O Último Teorema de Fermat. Também recomendo a leitura desta obra sensacional. Ele consegue explicar em detalhes, sem recorrer a tecnicismos, o desafio matemático que desafiou as mentes mais brilhantes do planeta por séculos a fio. E mesmo assim, narrado com habilidade, torna-se uma leitura instigante e saborosa. No final, você sai muito enriquecido de seus livros.

Voltando ao Big Bang, Singh não conta apenas os passos que levaram os pesquisadores até a teoria que promete esclarecer de onde viemos. Ele conta os bastidores, fala das intrigas, da política que grassa nos subterrâneos da ciência, da restistência às idéias inovadoras, etc, etc e etc. Tenho certeza que o livro agradará a qualquer um que se arrisque a lê-lo.

Simon Singh é Doutor em Física pela Universidade de Cambridge, autor literário e também produtor de séries de TV sobre temas científicos. Outros autores que seguem a mesma linha e que recomendo fortemente são Brian Greene e seu interessantíssimo Universo Elegante, que trata da teoria das supercordas, uma das mais recentes linhas de pesquisa da física que tenta desvendar de quê é feito o universo, a interação entre forças e partículas e porque elas são o que são e o que mais podemos esperar das futuras descobertas baseando-se no que já se sabe a respeito da matéria que compõe o universo. Greene também consegue traduzir temas complexos em linguagem simples, tornando tudo possível de ser entendido por pessoas comuns, munidas apenas de fascinação e curiosidade sem necessariamente disporem de conhecimento formal sobre os temas abordados. Por fim, um último autor que recomendo é o já falecido Isaac Asimov. De origem russa mas criado nos Estados Unidos, Asimov foi, na minha opinião, uma das mentes mais brilhantes que a espécie humana já produziu. Muito do que ele escreveu está desatualizado, afinal ele faleceu em 1992, vítima da AIDS, contraída por uma transfusão de sangue durante uma cirurgia. Além de possuir a mesma habilidade de escrita que os anteriormente citados, Asimov simplesmente podia debater sobre uma variedade de assuntos assombrosa. Químico de formação, brilhou mesmo foi na Astronomia e temas relacionados ao espaço, embora tenha sido um excelente divulgador nas áreas da Biologia, Física, Química e até mesmo História. Deixou vasto material publicado que, mesmo defasado em relação ao conhecimento atual, vale a pena ser lido. Sua prosa elegante e bem estruturada torna seus livros absorventes como se fossem um romance. Paradoxalmente, embora tenha se aventurado também como novelista de ficção científica, não o considero um grande autor nessa área. Seu contemporâneo e amigo de longa data, o também falecido Arthur Charles Clarke, era bastante superior em tecer a trama de uma novela recheada de assuntos científicos variados. Também o recomendo mas não como divulgador científico e sim como romancista. Soberbo.

Enfim, para não alongar ainda mais esse texto, escolha um dos livros citados e comprove o que eu estou dizendo: ciência pode ser divertida, emocionante e viciante. Basta que venha das mãos de gente habilidosa, o que é verdade para qualquer área do conhecimento humano.

Boa leitura!