terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Volta às origens

Depois de uma longa ausência e duas postagens não relativas ao tema proposto pelo blog, vamos tentar uma volta às origens.

Uma das propostas deste blog sempre foi a de divulgar conhecimento sobre formas digitais de entretenimento. Nesse quesito, o assunto de maior destaque sempre foi (e continua sendo) o formato digital de músicas. Tudo começou há muito tempo. Quando surgiu a internet, não demorou muito para que os usuários experientes (os chamados "micreiros" ou, mais carinhosamente, "escovadores de bit") percebessem que a Grande Rede, ainda incipiente, se prestava para troca de informações de forma até então impensada: usuários mandando e recebendo (compartilhando) músicas entre si.

Para que isso fosse possível, era necessário tornar os arquivos de áudio pequenos o suficiente para trafegar pela rede. Lembrem-se que tudo começou com as abomináveis conexões "dial-up", ou seja, por linha telefônica. No Brasil, o fenômeno era ainda mais perverso porque, além da internet comercial ter demorado um pouco para chegar ao grande público, a nossa realidade de telefonia era particularmente desoladora. Linhas com baixa qualidade, cheias de ruído e com quedas constantes nas ligações infernizavam o internauta mais empedernido. Com o passar do tempo, a realidade foi mudando substancialmente e hoje o número de usuários desse tipo de conexão já deve ser minoria. A banda (nem tão) larga já faz parte do cotidiano do brasileiro de todas as camadas sociais. Ainda pagamos caro por um serviço de qualidade que não passa de razoável mas quem sabe como pode ser torturante uma conexão por telefone dá graças aos céus por termos pelo menos alternativa de acesso.

De qualquer forma, como já disse, era preciso reduzir o tamanho de arquivos de música para ser possível enviá-los e recebê-los pela internet que nascia. Para explicar porque isso é importante, explico: em formato "cru", sem compactação ou nenhuma codificação especial, uma simples música extraída do CD e gravada no computador em formato RAW (o próprio formato nativo do CD) ocupa muitos megabytes. Por exemplo, uma faixa de 4 minutos de duração se transformaria em um arquivo de aproximadamente 40 MB! Como fazer para mandar um arquivo desse tamanho em uma conexão por telefone que trafegava, quando muito, 3 Kbytes por segundo? Com muita sorte (linha estável, sem ruídos) você levaria quase 4 horas para baixar uma música! Ou seja, impraticável.

Foi nesse universo que surgiram os formatos digitais. O MP3 não foi o primeiro, acredite. Antes dele houve outros, inclusive um obscuro MP2 que poucos tiveram a oportunidade de conhecer. Mas o MP3 foi o primeiro que realmente vingou. Isso porque permitia uma redução drástica no tamanho de um arquivo sonoro. Essa redução variava de acordo com a qualidade desejada por quem fazia a conversão. Tanto podia resultar em uma música de qualidade sofrível (os malfadados MP3 de 128 kbps ou menos) ou em música de boa qualidade (MP3 com bitrate de 192 kbps ou mais). Dependendo do que se escolhesse, seria possível produzir arquivos cujo tamanho teria em torno de 10% do tamanho original. Ou seja, uma música em (eca!) MP3 de 128 kbps teria 4 MB em vez dos 40 originais. Naquele universo, era suficiente e isso fez com que proliferassem os arquivos nesse formato e com essa qualidade.

Quando a velocidade das conexões começou a melhorar com o surgimento da banda larga, mais rápida e confiável, a demanda por melhor qualidade de áudio começou a se impor, já que o tamanho dos arquivos começou a perder importância. Por conta disso, hoje em dia a maior parte dos usuários que entendem um pouco do assunto considera que MP3 com bitrate de 128 kbps é muito ruim e procura por conversões alternativas que lhes sejam mais adequadas.

O fato é que hoje em dia, o MP3 continua sendo o formato digital preferido para áudio mas não é o único e nem mesmo o melhor. Existem alternativas mais modernas como o AAC, WMA ou Vorbis, para citar alguns. Mas devido ao seu longo reinado, o MP3 tornou-se difundido demais para ser ignorado. Assim, muitos aparelhos de som "convencionais" já incorporaram o formato e seus concorrentes ainda amargam uma certa resistência por parte dos fabricantes. Tanto o MP3 quanto o WMA são formatos proprietários, ou seja, seus desenvolvedores detêm patentes de uso e isso obriga todo fabricante de equipamentos de áudio, players, celulares e etc a pagar-lhes royalties para incluir o suporte aos formatos em seus produtos. Por isso, causa estranheza que outros formatos como o Vorbis, que são open source e, portanto, completamente gratuitos não sejam utilizados pelos produtores de hardware. Isso fica ainda mais incompreensível quando avaliamos que o Vorbis é muito superior ao MP3 ao permitir som de alta qualidade em arquivos menores. Mas em informática é tristemente recorrente a "vitória do mais burro". Produtos de qualidade superior foram, muitas vezes, sobrepujados por outros de qualidade inferior. Um caso clássico é o sistema operacional OS/2, da IBM, considerado muito superior ao Windows da Microsoft. Ambas as empresas trabalhavam em conjunto no desenvolvimento de ambos os sistemas mas é unânime a opinião que a Microsoft simplesmente se aproveitou da experiência da IBM no desenvolvimento de sistemas operacionais para produzir seu Windows 95 e conseguiu se impor no mercado por uma campanhas agressivas de marketing e ofertas comerciais, apesar da evidente superioridade do OS/2, que acabou morrendo. Enfim, há outros exemplos que nos mostram que o fato de ser o mais aceito não quer dizer que seja necessariamente o melhor. Longe disso, aliás.

Como a discussão sobre bitrates de áudio e formatos ficou um pouco no ar (e eu não quero tornar este texto desnecessariamente técnico), para quem quiser se aprofundar um pouco sobre o assunto (inclusive conversão de vídeo), recomendo a leitura de um texto que desenvolvi já há algum tempo e que pode ser encontrado nestes links:

Opção 1

Opção 2

De qualquer forma, o importante é que há vários formatos disponíveis e, para cada um deles, é possível produzir seus arquivos de áudio da forma que você quiser, equilibrando o custo (tamanho do arquivo) e benefício (qualidade desejada). Existem bons programas para fazer a conversão de CDs para formato digital. O próprio Windows Media Player permite isso, embora normalmente ele converta para o formato próprio do Windows, chamado de WMA ou Windows Media Audio. Ele também permite gerar arquivos em MP3 mas isso exige uma fuçada básica nas configurações do player. A Microsoft não faz nenhuma questão em incentivar outro formato que não seja o dela e deixa isso bem claro ao esconder essas opções no player.

Além do próprio Media Player, existem outras soluções muito boas, tanto pagas quanto gratuitas. Dentre os free, o que mais gosto de usar é o CDEX (http://cdexos.sourceforge.net) que permite criar arquivos em vários formatos (MP3, Vorbis, etc). Tenho um tutorial em vídeo-aula que explica como configurar e utilizar o software e que postarei aqui posteriormente.

Bem, se surgir alguma alma interessada em saber mais sobre o assunto, manifeste-se ou cale-se para sempre. :)

Abraço.

PS: conforme prometido, o link para a vídeo-aula do CDEX está aqui.

2 comentários:

  1. Que bom que eu tenho um "personal tech" em casa!!!! Amo-te!!!

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  2. Eu gosto de conferir estas suas explicações Marcelo, não vou negar que sou leigo em muitas, contudo consigo compreende-las através de você e seus longos textos didáticos. \o/

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